Sim, o meu pai teve de deixar de trabalhar três meses para andar comigo ao colo nos meus dias de escola. Ficou refém de um aval para umas obras em que a Câmara não desembolsou um cêntimo. Giro, não é?
Tenho 29 anos, vivo no Porto e estudo Engenharia Informática (mestrado). Tenho paralisia cerebral, desloco-me em cadeira de rodas, mas o que me define é ser empreendedor. O meu objetivo de vida é ser uma inspiração para novas empresas e empreendedores, mostrando que apesar de todas as dificuldades, é sempre possível fazer acontecer. O meu percurso de vida comprova isso mesmo.
Sempre fui apaixonado pelo empreendedorismo, a minha meta sempre foi e será criar negócios! Acredito que desta forma, por esta via, vou mudar o mundo!
Quando me perguntam “como é que se vive em Portugal com uma deficiência?” penso em várias coisas, um misto de palavras e sentimentos. Mas desde logo o sentimento de sorte e por várias razões:
1º Tenho uma família fantástica que nunca deixou que me “entregasse” ao meu quadro de terror anunciado; “apodrecer” numa instituição onde vivem pessoas que teoricamente não servem de nada à nossa sociedade e esperam a sua morte. Sempre me ensinaram que podia e devia fazer mais, de sonhar alto. No fundo, comandar o meu destino.
2º Por ter esta educação adquiri uma estrutura mental forte. Faz com que possa aguentar tudo desde da minha infância até aos dias de hoje, começando por infantários e escolas que não me queriam aceitar por estar numa cadeira de rodas e até professores que defenderam que eu só deveria estudar até ao 9º ano de escolaridade.
Para ser mais concreto ficam aqui dois exemplos: A minha escola primária na altura não tinha quaisquer condições de acessibilidade para receber alunos em cadeira de rodas, a Câmara Municipal do Porto alegou que não havia verbas para tal. Sabem quem fez as obras? O meu pai.
A melhor parte ainda vem aí: teve de pedir autorização à câmara. Sabem quanto tempo demorou a ser dado o aval? Três meses!
Sim, o meu pai teve de deixar de trabalhar três meses para andar comigo ao colo nos meus dias de escola. Ficou “refém” de um aval para umas obras em que a Câmara não desembolsou um cêntimo. Giro, não é?
Ainda no ensino: Na transição do 9º para o 10º ano não havia uma escola que aceitasse a minha matrícula. Conclusão; mais uma vez os meus pais tiveram de lutar contra o mundo, escrever cartas e mais um cem número de coisas. A solução foi extrema. Foram acampar para a porta da Direção Regional de Educação do Norte até terem uma resposta cabal de que eu ia ter escola para prosseguir estudos.
Refletindo, apesar do “estado papá”, parece que em Portugal tudo funciona na base do protesto. Independentemente de a causa ser justa. Uns reclamam porque a inovação traz mais concorrência, outros por dinheiro para ordenados, mas e os equipamentos? As Escolas, os Centros de Saúde e os Hospitais.
Estas políticas de mediocridade têm de acabar! São inconsequentes e quem precisa não devia viver assim.
Da reflexão à ação: agora decidi atuar cívica e politicamente. Juntei-me à Iniciativa Liberal porque, como referi no início, quero mudar o Mundo.
Apesar de já ter recebido convites de outras forças partidárias nunca senti que pudesse ser atraente trabalhar com elas, uma vez que todas elas já foram ou fizeram parte de Governos deste país e nada alteraram. Basicamente criticam o governo antecessor, mas nada reformam e não acompanham as necessidades da Sociedade!
Estou extremamente motivado por fazer parte deste novo partido, porque encontrei pessoas com experiência em diferentes áreas profissionais e com uma sede enorme de mudança!
E através de um Partido, neste caso da Iniciativa Liberal, que irei lutar por reduzir diferenças. Seja para que existam condições de acessibilidade, para que um Pai ou uma Escola não tenham que esperar meses por licenças, para promover um espírito de empreendedorismo e que ninguém fique à espera dos paternalismos estatais.
Juntos vamos tomando nas nossas mãos o nosso destino, vamos mudar o mundo!
OBSERVADOR, 8 de Junho de 2018