Opinião – Nuno Morna – Por um CINM de cabeça erguida

O CINM gerou, no ano transacto, 122 milhões de euros de impostos. Com um sistema fiscal próprio, fiscalização cuidada e promoção do Centro feita como deve de ser, poderia gerar muito mais, libertando-nos da “pedincha” ao Orçamento de Estado.

4. A Comissão Europeia considerou que as isenções fiscais concedidas no âmbito do CINM são ilegais. Ou, pelo menos, ficou com essa ideia, tendo pedido documentação adicional a Portugal para que tudo fique esclarecido. Isto só vem demonstrar o modo aleivoso como tudo foi negociado, com Bruxelas, pelo Governo da República que é a quem cabe negociar. Sou defensor acérrimo do nosso Centro. Considero-o imprescindível para uma estratégia de desenvolvimento, seja ela qual for.

Uma coisa é certa, estes constantes ataques não lhe fazem bem nenhum. Não entendo mesmo como se preocupa tanto a Comissão com o que aqui se passa, fazendo vista grossa ao que acontece em Malta e em Chipre, cujas Zonas Francas são também financeiras (a nossa hoje em dia não o é) e que navegam numa profunda nebulosidade. Em Malta, onde o assassinato de Daphne Galizia, jornalista que investigava os “Panama Papers” denunciando casos de corrupção que chegavam ao governo socialista do país, não tem merecido tanta atenção da Comissão Europeia.

Estão em causa, agora, os Regimes 3 e 4 do CINM que se apoiam na criação de emprego e que, por isso mesmo, fizeram com que grandes empresas internacionais tenham abandonado a Madeira, indo à procura de outros destinos europeus com os quais não se vê esta preocupação constante.

O CINM gerou, no ano transacto, 122 milhões de euros de impostos. Com um sistema fiscal próprio, fiscalização cuidada e promoção do Centro feita como deve de ser, poderia gerar muito mais, libertando-nos da “pedincha” ao Orçamento de Estado. Dentro em breve tudo será renegociado, pois vem aí o Regime 5 que tem a ver com o ciclo orçamental 2021/27. A negociação será entre o Governo da República e a Comissão. Defendo, acerrimamente, que o Governo Central (mesmo estando presente) delegue na região a possibilidade de poder negociar tão importantes dossiers.

Temos aqui uma janela de oportunidade para trazer, por intermédio do CINM, aquilo de que todos precisamos: riqueza.

Claro que, para os estatistas que vêm no mercado o inferno, o que acabo de escrever são barbaridades. Mas, para esse lado durmo bem, porque sou dos que acham que “um em cada três estatistas é tão idiota como os outros dois”!

5. Os hábitos não mudam. Há quem comece a ler os jornais detrás para a frente e há quem, como eu, os leia da frente para trás. Leio os títulos das chamadas de primeira página e depois vou lendo página a página o que me vão oferecendo as notícias, os comentários, os artigos e as crónicas. Muito raramente fujo a essa rotina. Na semana passada teve de ser. Ao ler, na primeira página, que a número seis do partido socialista (o melhor lugar de sempre) dava uma entrevista, não resisti a ir a correr ler o que a Dra. Sara Cerdas tinha para nos dizer. É que, apesar deste meu ar despreocupado, e porque tenho sempre uma enorme respeito pelos meus adversários políticos, fiquei com a ideia de que a candidata indicada pelo PS/Madeira seria uma adversária temível, pois só assim se justificaria a substituição da anterior.

Fiquei aterrado. Não acredito que o que li seja tudo. Deve haver um qualquer truque por detrás da indicação da Dra. Cerdas como candidata que eu não estou a descortinar. Se me tenho andado a preparar como nunca (nem nos tempos da faculdade de Direito “marrei” tanto) a partir de hoje vou fazê-lo a dobrar. Vou preparar e simular debates, entrevistas e declarações. Reuni no próprio dia o Comité Eleitoral da Iniciativa Liberal de modo a que tudo seja preparado com o máximo de atenção e cuidado.

O PS e Sara Cerdas só podem ser muito mais do que aquilo que conseguimos perceber. Só pode ser táctica. Não acredito no que li. Até porque aquela necessidade de dar cordialidade e oralidade à entrevista faz-me ficar com a ideia, e posso também estar enganado, de que a mesma foi dada por escrito. Logo, tudo muito bem pensado. E destas coisas sei eu que fui actor durante mais de 30 anos e sei o que é a oralidade, e a técnica de escrever procurando-a, que não está ao alcance de qualquer um. Como foi o caso.

Tenho da Europa a perspectiva do utilizador. Não é muito, está longe de ser tudo, mas é alguma coisa. Depois de ler a entrevista que li, e que me impediu de ler o resto do publicado no diário nesse dia tal a prostração, fico com a ideia de que nós, os candidatos pela Madeira nas listas dos outros partidos, vamos levar uma bordoada, à moda antiga, por via da qualidade da candidata socialista.

É que, em duas páginas, não disse absolutamente nada, tal qual faz o seu ídolo. Só posso concluir que está a guardar trunfos temíveis para os debates que se avizinham e onde espero que estejamos todos presentes.

E, depois, no resto da semana, continuámos a ser presenteados com frases feitas e discurso vazio tão ao agrado da elite socialista do momento.

6. No Conselho Nacional da passada semana, Rui Rio teve o cuidado de se referir, elogiando, os dez primeiros da lista que propôs às eleições europeias. O melhor que conseguiu arranjar para Cláudia Monteiro de Aguiar foi: “a candidata da Madeira”. Para mim, ser candidato pela Madeira, e sou-o, é uma enorme honra.

Mas o modo como Rio se referiu à nossa conterrânea foi depreciativo até porque a candidata já é deputada europeia, tem trabalho feito e merecia palavras de apreço e incentivo. É isso que é ser líder.

A deputada merecia melhor, até porque vai ter trabalho acrescido, que Rio lhe atribuiu, ao fazer dela representante também dos Açores.

Estamos bem entregues no que diz respeito às candidaturas que, à partida, podem eleger deputados que representem os interesses da Madeira no hemiciclo de Bruxelas/Estrasburgo.

Vão gastar os vossos votos nisso?

7. “O capitalismo é a exploração do homem pelo homem. O socialismo é o contrário” – Millôr Fernandes

Nuno Morna

DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA, 18 de Março de 2019

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