Nas últimas semanas têm-me perguntado várias vezes se a Iniciativa Liberal estaria disponível para uma coligação alternativa à geringonça. Se a coligação em causa visar libertar a economia do peso do estado, promover a competitividade, a descentralização e contrariar a submissão do poder político aos grupos de interesse, sim, estaremos disponíveis. Qualquer partido que partilhe genuinamente de um ou mais destes objectivos é um potencial aliado que abraçaremos com entusiasmo. Já se a vontade de estabelecer uma coligação alternativa tiver como único objectivo o jogo da alternância, jogar ao “Tira socialista (de esquerda). Mete socialista (de direita).”, se for para entrar numa mera disputa entre grupos de assalto ao poder sem diferenças ideológicas relevantes, ficaremos naturalmente de fora. Infelizmente, no actual cenário político não só uma coligação alternativa à geringonça parece altamente improvável, como não se vislumbram os ingredientes políticos para que essa viesse a ser uma verdadeira alternativa reformista.
Comecemos pelo PSD. Rui Rio lidera o único partido que, realisticamente, tem condições para viabilizar uma alternativa de poder neste ciclo eleitoral. No entanto, a única abertura para acordos de longo prazo que demonstrou no passado foi para um acordo a 10 anos com António Costa quando Passos Coelho ainda era primeiro-ministro e o partido que agora lidera estava prestes a ir a eleições. Desde aí não parece ter mudado de ideias. Está claramente mais interessado em ser vice-primeiro-ministro de António Costa do que constituir-se como alternativa a ele. Só esta indisponibilidade tornaria o projeto de construção de uma alternativa impossível.
Assunção Cristas, por outro lado, parece mais apostada em ser uma versão feminina de Marcelo Rebelo de Sousa do que uma personagem ideologicamente disruptiva e impulsionadora de mudanças. É uma estratégia legítima e com algumas probabilidades de sucesso eleitoral, mas politicamente não traz nada de novo ao país. Dela não se vislumbrou qualquer ímpeto reformista quando esteve no governo, onde ficou mais conhecida por lançar novos impostos do que pela vontade de baixar algum. Para ser justo, há no CDS uma corrente liberal e reformista com pessoas bastante capazes. Se um dia essa corrente minoritária se tornar ideologicamente dominante, é possível que o CDS possa fazer parte de um esforço reformador.
Já Santana Lopes é um dos políticos portugueses há mais tempo no activo tendo demonstrado coragem política, propensão ao risco e capacidade de criar empatia no eleitorado. Mas nunca nestes 40 anos de política activa demonstrou grandes instintos reformistas. Ainda está a tempo de mudar, claro. Para já, o partido que lidera ainda aparece descrito na página oficial como um partido aberto a pessoas de “diferentes ideologias” (assumo que exclui socialistas, comunistas ou fascistas). Aguarda-se que o congresso contribua para a definição ideológica do partido e aí se perceba exactamente o tipo de coligação a que aspira.
As perspectivas eleitorais da Iniciativa Liberal são aquelas que pode ter um partido novo sem figuras do sistema politico-mediático nem o apoio de um grande grupo de comunicação social como acontece com as duplas Santana/Impresa e Ventura/Cofina (sublinho que, sendo grupos privados, são parcerias absolutamente legítimas). A democracia já surpreendeu muitas vezes no passado recente e se, contra todos os obstáculos, a Iniciativa Liberal vier a ter um peso eleitoral para a questão se colocar, estaremos disponíveis para apoiar uma solução alternativa para o país.
Estaremos disponíveis para uma alternativa focada na liberdade individual, que reduza o peso do estado na vida das pessoas e das empresas, que aumente a competitividade do país, que aspire a melhorar a vida de todos em vez de agradar a um conjunto de interesses instalados. Economicamente estagnado há 20 anos, Portugal precisa desesperadamente de um modelo económico alternativo, reformista e liberal. Precisa desesperadamente de tomar a decisão que a Irlanda tomou no final dos anos 80 e que lhes permitiu passar da cauda para a cabeça da Europa. Para isso é preciso desenhar um caminho alternativo, uma coligação corajosa e disruptiva com uma visão de longo prazo para o país. Infelizmente, não a vejo como um cenário provável no actual panorama político.
À falta de parceiros noutros partidos, continuaremos a fazer crescer uma coligação interna de várias correntes liberais e reformistas dentro da sociedade civil. Até que algo mude no panorama político, esta é a única coligação reformista viável. No entanto, acredito que um resultado eleitoral inesperado da Iniciativa Liberal (que, dado o défice de recursos e atenção mediática, só poderá acontecer pela força das ideias) venha a inspirar as mudanças políticas necessárias para viabilizar uma verdadeira alternativa. É com esse objectivo em mente que continuaremos a trabalhar.
Carlos Guimarães Pinto
Presidente do partido Iniciativa Liberal
24 de Janeiro de 2019, no Observador