{"id":2765,"date":"2018-03-08T20:08:46","date_gmt":"2018-03-08T20:08:46","guid":{"rendered":"https:\/\/iniciativaliberal.pt\/?p=2765"},"modified":"2018-03-08T20:52:10","modified_gmt":"2018-03-08T20:52:10","slug":"a-liberdade-nao-tem-de-ser-cor-de-rosa","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/iniciativaliberal.pt\/a-liberdade-nao-tem-de-ser-cor-de-rosa\/","title":{"rendered":"A liberdade n\u00e3o tem de ser cor-de-rosa"},"content":{"rendered":"

Hoje assinalo a liberdade. E a liberdade n\u00e3o tem de ser cor-de-rosa.
\n\u00c9 poder fazer, ser e sonhar o que eu quiser e n\u00e3o ter de pedir autoriza\u00e7\u00e3o a ningu\u00e9m.<\/p>\n

Antes de mais, quero dizer: eu era a pessoa que ficava feliz com o se assinalar o dia com uma flor, porque era a \u00fanica vez que via o meu pai a presentear a minha m\u00e3e. Na minha adolesc\u00eancia disse muitas vezes “se queremos igualdade porque \u00e9 que h\u00e1 um dia da mulher?”. E escrevi h\u00e1 3 anos, um texto em que me recusava assumir feminista para dizer que era igualit\u00e1ria. Todos temos um passado, desenvolvi-me mais nos \u00faltimos anos que as estirpes da gripe.<\/p>\n

Hoje marca-se a luta pela igualdade social, pol\u00edtica e econ\u00f3mica. E aos movimentos de direitos de minorias, o mundo assistiu e assiste a movimentos pelos direitos de uma maioria: as mulheres. \u00c9 que se a coisa est\u00e1 equilibrada no mundo como um todo, Portugal est\u00e1 em 13\u00ba na lista de pa\u00edses com menos homens por cada 100 mulheres.
\nSe hoje em dia, os temas de g\u00e9nero est\u00e3o na ordem do dia: n\u00fameros de viol\u00eancia dom\u00e9stica e sexual, a discrimina\u00e7\u00e3o, a igualdade de oportunidades, a desigualdade salarial que em Portugal conseguiu aumentar nos \u00faltimos anos (sabiam que as mulheres portuguesas trabalham em m\u00e9dia 79 dias por ano sem serem remuneradas que representa menos de 320\u20ac nos sal\u00e1rios) N\u00e3o \u00e9 o TPM que nos faz ficar f******: \u00e9 isto.<\/p>\n

Nos temas do dia que s\u00e3o gritados nas redes sociais, falta o essencial: perceber o que \u00e9 um flirt. Perceber o que \u00e9 consentimento. Perceber o que \u00e9 ass\u00e9dio. Perceber o que \u00e9 abuso. Mas acima de tudo: perceber-se o que \u00e9 ser mulher.<\/p>\n

N\u00e3o s\u00f3 a mulher branca, hetero, licenciada, empreendedora de classe m\u00e9dia. Tamb\u00e9m, mas n\u00e3o s\u00f3. A mulher \u00e9 cis, \u00e9 trans, \u00e9 preta, \u00e9 chinesa, \u00e9 cigana, \u00e9 mu\u00e7ulmana, \u00e9 judia, \u00e9 ateia, \u00e9 sikh, \u00e9 pobre, \u00e9 hetero, \u00e9 do interior, \u00e9 do litoral, \u00e9 dom\u00e9stica, \u00e9 oper\u00e1ria fabril, \u00e9 desempregada, faz yoga, tem a elasticidade e coordena\u00e7\u00e3o de um agrafador, \u00e9 stressada, \u00e9 CEO, \u00e9 artista, \u00e9 m\u00e3e solteira, \u00e9 vi\u00fava, \u00e9 do benfica, \u00e9 do porto, \u00e9 est\u00e9ril, \u00e9 l\u00e9sbica, \u00e9 emigrante, \u00e9 refugiada, ressona, \u00e9 electricista, \u00e9 manicure, \u00e9 gorda, \u00e9 magra, que gosta de muito de f****, que \u00e9 assexual, que diz palavr\u00f5es, que n\u00e3o diz palavr\u00f5es, que \u00e9 daqui ou do fim do mundo, que tem mil seguidores no instagram, n\u00e3o usa redes sociais…E \u00e9 tanta a diversidade com quest\u00f5es espec\u00edficas que ficam perdidas no ru\u00eddo dos temas do dia. E isto \u00e9 a prova de que n\u00e3o h\u00e1 um \u00fanico caminho para fazer as coisas nem um manual de instru\u00e7\u00f5es para fazer isto.<\/p>\n

N\u00e3o me ofere\u00e7am flores hoje, nem bombons, nem descontos em restaura\u00e7\u00e3o, nem workshops de maquilhagem, nem em lojas de roupa. O que \u00e9 que isso diz sobre o vosso dia da mulher, marcas-que-acham-super-moderno-fazer-ac\u00e7\u00f5es-pat\u00e9ticas-porque-tudo-\u00e9-pretexto-para-se-vender? N\u00e3o \u00e9 um logo ao contr\u00e1rio, n\u00e3o \u00e9 mudarem o vosso nome para feminino neste dia, n\u00e3o \u00e9 fazerem uma campanha publicit\u00e1ria dramatico-\u00e9pica sobre isto: \u00e9 olharem para dentro e perceberem dentro da vossa empresa, da vossa fam\u00edlia, o que \u00e9 que n\u00e3o faz pandam com isto.<\/p>\n

N\u00e3o queremos que defendam as mat\u00e9rias de igualdade porque s\u00e3o nossos pais, tios, maridos ou filhos, logo s\u00e3o muito solid\u00e1rios porque “percebem perfeitamente”. A mulher n\u00e3o vale pela rela\u00e7\u00e3o que se tenha com ela. H\u00e1 coisas que s\u00f3 n\u00f3s lidamos desde os 12 anos e que s\u00f3 existem pelo g\u00e9nero que temos. S\u00e3o direitos humanos.<\/p>\n

Sem darmos conta, a sociedade avan\u00e7ou muito nos \u00faltimos 30 anos e h\u00e1 muitas conversas que assustam e s\u00e3o desconfort\u00e1veis, mas \u00e9 n\u00e3o lhes virando as costas com medo da mudan\u00e7a, que o mundo avan\u00e7a. Por isso, n\u00e3o tenham preconceito com todas as mulheres que falam desta merda.<\/p>\n

E isto tudo torna-se importante porque eu quero ser m\u00e3e um dia e gostava muito de deixar um mundo um bocadinho mais justo. Ou pelo menos um mundo onde dizer “\u00e9s um c****” ou “jogas como uma menina”, \u00e9 um elogio do c******.
\nPor isso, vejam l\u00e1 isso.<\/p>\n

\u2014 Texto da autoria de C\u00e1tia Domingues<\/a><\/p>\n

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