Opinião – Pedro Antunes – Carta Aberta ao Sr. Presidente da República

Pedro Antunes, 10 de Dezembro de 2018

Exmo Sr Presidente Marcelo Rebelo de Sousa,

Escrevo-lhe esta carta aberta no seguimento das suas declarações na cerimónia de entrega dos prémios Gazeta 2017. Identificou uma situação de emergência nos meios de comunicação social portugueses e disse que essa situação “já constitui um problema democrático e de regime”. Postula depois a interrogação “até que ponto o Estado não tem a obrigação de intervir?”. Continua dando como condição “uma forma de intervenção transversal, a nível parlamentar, que correspondesse a um acordo de regime”.

Começo por concordar com o Sr. Presidente. A10 comunicação social está numa situação complicada. É principalmente uma situação complicada de feitura própria, com muita ajuda de atores políticos com a relevância do Sr. Presidente também.

Digo que é de feitura própria porque não vejo os grupos de comunicação social a fazerem os ajustes necessários à sua estrutura empresarial, ao seu modelo de negócio. Continuam com estruturas demasiado pesadas, cristalizadas no jornalismo dos anos 80 e 90, dependentes de publicidade e de nomes que pouco dizem aos mais jovens. Raros são os meios que estão a alterar isso.

Digo que é de feitura própria porque são raros os meios de comunicação social que identificaram o seu mercado. O que temos hoje na imprensa e no audiovisual é uma espécie de megafone gigante em que quase todos oferecem a mesma informação baseada no imediatismo e nos interesses dos grupos corporativos que capturaram o Estado.

Raros são os meios que estão a olhar e a falar directamente para o português comum, ou para os jovens.

Não estou a dizer que a indústria tem trabalho fácil pela frente, mas já se começam a ver algumas correções, ainda tímidas. Muitos jornais vão acabar por falta de qualidade do produto que pretendem vender. Confio perfeitamente na classe jornalística para se adaptar à nova realidade. Ainda esta semana, em conversa com 2910um jornalista relativamente novo, vi um sinal de esperança e não de desespero.

O que poderia o Estado fazer? Podia começar por olhar para dentro. RTP, RDP e Lusa, completamente suportadas com o nosso dinheiro, de forma até quase sub-reptícia na conta da electricidade. Apesar de todo o argumentário de serviço público, ignoraram a fundação de um partido político, em 2017, a Iniciativa Liberal, a presença deste mesmo partido na avenida da Liberdade no 25 de Abril, da convenção fundadora, programática, etc. Como aliás fazem com todos os pequenos partidos, a não ser que organizem uma manifestação, ou atos bizarros para chamar à atenção. É para isto, ou seja, mais do mesmo, que o Sr. Presidente quer pôr os contribuintes a pagar mais?

Deixo também aqui uma sugestão ao que pode o Sr. Presidente fazer.

Vi a forma pública e mediática como recebeu um novo partido, o Aliança, de um dia para o outro. Pompa e circunstância para um partido unipessoal e populista, encabeçado por um político presente há décadas e que nada trás de novo. Pompa e circunstância para um partido cujo mediatismo já era elevado, apesar de se notar pouco efeito prático, por exemplo nas redes sociais.

Fiquei admirado porque antes do Aliança houve a Iniciativa Liberal, partido de verdadeira base de cidadania, formado em Dezembro de 2017. Um grupo de cidadãos comuns mereceria a mesma pompa e circunstância do que um político de décadas, derrotado no seu partido, tornado dissidente. Teria sido interessante o Sr. Presidente ter criado, tentado criar, condições para um mediatismo semelhante. Nesta democracia não devia haver filhos e enteados.

Por isso, Sr. Presidente, deixo a seguinte sugestão. Antes de começar com a solução fácil de despejar dinheiro dos contribuintes em mais uma coisa que eles não querem, ou promover mais um momento de subsidiodependência ou aumentar a interferência do Estado em mais um sector, porque não começar por si, Sr. Presidente? O que pode o Sr. Presidente fazer para oxigenar não só a comunicação social, mas a democracia portuguesa que tanto prezamos e que tanto precisa?

Porque os portugueses não precisam de mais uma Marcelfie.

Pedro Antunes

Empresário e Fundador da Iniciativa Liberal

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